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38ª Romaria da Terra reúne 12 mil romeiros em David Canabarro

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Romeiros e romeiras de todo o estado do Rio Grande do Sul seguiram guiados por Deus, nesta terça-feira (17), em direção à Danid Canabarro para participarem da 38ª Romaria da Terra.  O evento teve como tema “Sucessão rural familiar, políticas públicas e sustentabilidade social”, e lema “Eu darei esta terra à sua descendência” (Gn 12, 7), com a reflexão desta temática, a Romaria segue sendo esse espaço para celebrar a vida e fortalecer os sonhos e esperanças.

A Romaria iniciou com uma mobilização na frente da Igreja Matriz Sagrada Família, onde todos os romeiros acolheram a com fé e alegria o banner do Papa Francisco que faz um apelo mundial “Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos” e a Cruz um dos símbolos da Romaria. Em seguida, todos os romeiros seguiram caminhando da Igreja ao Módulo Esportivo Municipal, neste percurso de 2km foi possível ouvir a voz de tantos camponeses e camponesas denunciando todas as injustiças que os atingem e anunciando todas as iniciativas que geram vida.

Durante a caminhada, realizaram-se três paradas que ajudaram os romeiros e romeiras refletirem e aprofundarem o tema da Romaria. A 1ª parada foi organizada pela Emater e refletiu a sucessão rural; a 2ª parada trabalhou o tema sustentabilidade, dinamizada pela Cáritas Arquidiocesana e a 3ª parada foi preparado pelo MST e refletiu o tema políticas públicas.

O percurso encerrou com a Celebração Eucarística que contou com a presença de 10 bispos do Rio Grande do Sul e dezenas de sacerdotes, religiosos e religiosas. A Celebração foi presidida pelo arcebispo, dom Antonio Carlos Altieri que acolheu todos os participantes dizendo: “hoje a arquidiocese se torna casa comum onde se reúnem os filhos e filhas com a maternal bênção da Mãe Aparecida”.

“Bendito fruto da terra e do trabalho humano. Bendito o suor de quem o produz. Benditas famílias do mundo inteiro que acreditam e não deixam morrer a fé, a história, as lutas, a utopia e o júbilo da esperança que se concretiza do bem de todos”, assegurou o arcebispo. Para concluir, dom Altieri rogou: “Que a fé no Deus de toda Terra, que o testemunho dos mártires de nossas Américas, que o grito de nossos lábios e do nosso coração convertido ao Amor e a força de nossa união despertem as autoridades responsáveis pelo cuidado de nosso povo, pelo bem viver de todos”.

Ao final da Romaria da Terra, os romeiros e romeiras foram enviados a continuarem na luta por Terra, Sustentabilidade e Dignidade.

 

10º Acampamento da Juventude

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Fez parte da programação da 38ª Romaria da Terra o 10º Acampamento da Juventude, uma ação que já é tradição na Romaria do Rio Grande do Sul. O encontro aconteceu nos dias 15 e 16, participaram mais de 450 jovens de todo o estado. Durante o acampamento os jovens refletiram a temática da Romaria – Sucessão rural, Modelo de produção, Sustentabilidade e Direitos Humanos , Questões de gênero.

O Acampamento foi um espaço propício para vivenciar a mística e espiritualidade e fortalecer a luta da juventude por participação social, políticas públicas, inclusão e direitos. Além disso, a juventude teve uma participação intensa na Romaria acolhendo os romeiros e romeiras e auxiliando nos momentos de celebração, mística e animação.

 

Carta às Comunidades

 A 38ª Romaria da Terra e o 10º Acampamento da Juventude são frutos de meses de trabalho nas comunidades e nos movimentos, envolvendo inúmeras entidades, entre elas mais de 15 organizações juvenis, pastorais e movimentos do campo e da cidade. Para o enriquecimento da caminhada ecumênica, fizeram-se presente também os irmãos e as irmãs da Pastoral Popular Luterana. Embalados pelo dinamismo do Espírito de Deus, que nos chama sempre de novo a continuar na construção da justiça e da paz, da Terra Sem Males, de Um Outro Mundo urgentemente Necessário e Possível, da Civilização do Amor, da Cultura de Paz e do Bem-Viver.

Nesse espírito, nos dias do carnaval de 2015, de 15 a 17 de fevereiro, em torno de 500 jovens do Rio Grande do Sul e também de Santa Catarina, estiveram reunidos no módulo esportivo municipal de David Canabarro, juntando-se aos demais milhares de Romeiros e Romeiras, compromissados/as com os valores e as causas da “Sucessão Rural Familiar, Políticas Públicas e Sustentabilidade Social”, que garantam que a Terra seja um dom para a vida e não objeto para negócio, como disse Deus a Abraão “Eu darei esta terra à sua descendência” (Gn 12,7) e que Sepé reafirmou na luta do povo índio contra a ocupação imperialista, bradando “Alto lá! Esta terra tem dono!”

Os/as Romeiros/as do 10º Acampamento da Juventude foram acolhidos/as com entusiasmo por uma equipe de jovens desde a madrugada do domingo, que prepararam com muito trabalho e amor, o espaço para o Acampamento e a Romaria. Logo todas as delegações se integraram e, com vibrante energia e alegria, com palavras de ordem, canções diversas e muito debate, foram reafirmando a disposição de serem sujeitos protagonistas de uma nova sociedade, justa, solidária, equitativa, plural e ecológica.

Refletimos sobre a realidade, ouvimos os clamores que brotam das mais diversas situações de exploração e opressão, geradas pelo sistema capitalista, sobretudo na presente fase neoliberal. Procuramos compreender os desafios que nos são colocados, aprofundando o processo de transformação, para que haja vida digna e abundante para todos e todas.

Neste debate percebemos que vários projetos estão em disputa. Todos se apresentam como caminhos de felicidade. Numa época em que vivemos muitas mudanças, ou mesmo uma mudança de época, precisamos compreender e discernir o que defende a vida, colocando no centro o respeito ao ser humano e à vida na Terra. Faz-se necessário resgatar os saberes tradicionais e populares libertadores de tantos povos, que até hoje resistem e ensinam valores fundamentais dos quais não se pode abrir mão.

 A partir desta reflexão, celebrou-se em comunhão com as mais variadas expressões de fé, de organização popular e realidades juvenis, resgatando a caminhada das Romarias da Terra e dos Acampamentos das Juventudes. Dessa forma, foram consolidados e reafirmados os seguintes compromissos, como sinal de renovação da Aliança do povo com o Deus da Vida:

– Denunciar o sistema capitalista como intrinsecamente perverso, pois sua lógica de acumulação a qualquer preço, movido pela ganância, gera as divisões sociais, exploração, opressões diversas, sofrimento e morte.

– Defesa da democracia e do direito do povo brasileiro escolher o seu caminho.

– Lutar contra a privatização dos serviços públicos.

– Combater a desmoralização, a criminalização e a repressão dos Movimentos Sociais Populares e suas causas.

– Retomar e aprofundar a defesa da Reforma Agrária, condição inclusive para avançar na agroecologia e na agricultura familiar e camponesa.

– Denunciar o agronegócio como um sistema que tem como lógica o lucro e se sustenta na exploração do trabalho e dos recursos naturais, em contradição com a lógica da agricultura familiar e camponesa.

– Defender os diversos sistemas da biodiversidade e fortalecer a luta contra os agrotóxicos e as sementes transgênicas, valorizando um modelo de produção e consumo saudáveis, pelas práticas da agroecologia, sem ter medo de mudanças.

– Exigir políticas públicas para a produção, distribuição e consumo agroecológico, incluindo o apoio à transição de modelos.

– Fortalecer a política como a ação em favor do bem comum, essencial nos processos de mudança da realidade, e como uma forma eficaz de amor ao próximo.

– Investir no fortalecimento do trabalho de base e na aproximação dos explorados e excluídos.

– Lutar pela equidade de gênero reconhecendo o protagonismo das mulheres, sua participação nos espaços de poder e decisão de nossa sociedade.

– Garantir uma educação do campo e na cidade que valorize as especificidades do espaço geográfico e ao mesmo tempo implemente as políticas de educação inclusiva, de gênero e não-sexista.

– Respeitar e considerar justa toda forma de AMOR.

– Defender políticas públicas substantivas para a população trabalhadora, em especial para a juventude através de um processo de trabalho de base permanente.

  – Assegurar a participação da juventude e da população trabalhadora nos espaços de construção das políticas públicas e do controle social do Estado.

– Exigir o compromisso do congresso com o Plebiscito oficial por uma Constituinte Exclusiva e Soberana pela Reforma do Sistema Político.

– Construir novos espaços de formação permanente sobre a questão de gênero, envolvendo homens e mulheres, na perspectiva de superação de todas as formas de patriarcalismo, sexismo, machismo e violências contra as mulheres em todos os espaços da vida.

– Investir em formas de comunicação para garantir o direito fundamental à informação, que nos convoca ao engajamento na luta pela democratização dos meios de comunicação.

– Promover um processo de conscientização referente à demarcação das terras indígenas e quilombolas e o direito de produção dos pequenos agricultores. Considerando que tanto os pequenos agricultores, quanto os indígenas e quilombolas são vítimas do colonialismo, sendo que a união de suas forças é necessária para a garantia do acesso à Terra e às suas justas indenizações.

– Denunciar e combater a violência e o extermínio das Juventudes em especial da juventude pobre, negra e marginalizada.

– Exigir uma política nacional que reconheça os direitos dos atingidos pela construção de barragens. Lutar contra a construção de novas barragens, como a de  Garabi e a de  Panambi, pois queremos “águas para a vida e não águas para a morte”.

Animados e encorajados por tantas testemunhas que doaram suas vidas por estas causas, e, inspirados pelas palavras do Papa Francisco no encontro com os movimentos populares, que reafirma que “O amor pelos pobres está no centro do Evangelho” e que “Terra, teto e trabalho são direitos sagrados”. Acreditamos no Reino de Deus, cuja plenitude só se realizará quando não houver “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos”. Renovamos o desejo de que os bons frutos desta Romaria da Terra possam repercutir na vida de todas as nossas Comunidades de fé e de luta.

 

David Canabarro, 17 de fevereiro de 2015.

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